Para que o mundo seja do jeito que a gente quer, a mudança começa conosco, nos pensamentos, ações e sentimentos. Não adianta o ser humano ser bom, se ele tiver pensamentos negativos em relação a si e/ou ao próximo, ou reações tão negativas diante do negativo que reverte pra si o de pior. É necessário que sejamos uno em todas as nossas atitudes mentais, físicas, espirituais, pensar/agir/sentir da mesma forma, superando as diferenças e reagindo ao desconhecido sem pré-conceito, e colocando em prática a lei do amor. Quando conseguirmos juntar essas energias todas e nos tornarmos uno com o universo, teremos aprendido o que Jesus nos ensina, o que a vida nos testa, o que Deus quer de nós. Comunhão. textinho da Chris

sábado, maio 02, 2009

15 anos sem Mário




I. DA OBSERVAÇÃO

Não te irrites, por mais que te fizerem...

Estuda, a frio, o coração alheio.

Farás, assim, do mal que eles te querem,

Teu mais amável e sutil recreio...


II. DO AMIGO

Olha! É como um vaso

De porcelana rara o teu amigo.

Nunca te sirvas dele...

Que perigo!

Quebrar-se-ia, acaso...


III. DO ESTILO

Fere de leve a frase...

E esquece...

Nada

Convém que se repita...

Só em linguagem amorosa agrada

A mesma coisa cem mil vezes dita.


IV. DA PREOCUPAÇÃO DE ESCREVER

Escrever...

Mas por quê?

Por vaidade, está visto...

Pura vaidade, escrever!

Pegar da pena...

Olhai que graça terá isto,

Sejá se sabe tudo o que se vai dizer!...


V. DAS BELAS FRASES

Frases felizes...

Frases encantadas...

Ó festa dos ouvidos!

Sempre há tolices muito bem ornadas...

Como há pacovios bem vestidos.

VI. DO CUIDADO DA FORMA

Teu verso, barro vil,

No teu casto retiro, amolga, enrija, pule...

Vê depois como brilha, entre os mais, o imbecil,

Arredondado e liso como um bule!


VII. DA VOLUPTUOSIDADE

Tudo, mesmo a velhice, mesmo a doença,

Tudo comporta o seu prazer...

E até o pobre moribundo pensa

Na maneira mais suave de morrer...


VIII. DOS MUNDOS

Deus criou este mundo.

O homem, todavia,

Entrou a desconfiar, cogitabundo...

Decerto não gostou lá muito do que via...

E foi logo inventando o outro mundo.


IX. DA INQUIETA ESPERANÇA

Bem sabes

Tu, Senhor, que o bem melhor é aquele

Que não passa, talvez, de um desejo ilusório.

Nunca me dês o Céu... quero é sonhar com ele

Na inquietação feliz do Purgatório...


X. DA VIDA ASCÉTICA

Não foge ao mundo o verdadeiro asceta,

Pois em si mesmo tem seu próprio asilo.

E em meio à humana turba, arrebatada e inquieta,

Só ele é simples e tranqüilo.

XI. DAS CORCUNDAS

As costas de Polichinelo arrasas

Só porque fogem das comuns medidas?

Olha! quem sabe não serão as asas

De um Anjo, sob as vestes escondidas...


XII. DAS UTOPIAS

Se as coisas são inatingíveis.., ora!

Não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos, se não fora

A mágica presença das estrelas!


XIII. DO BELO

Nada, no mundo, é, por si mesmo, feio.

Inda a mais vil mulher, inda o mais triste poema,

Palpita sempre neles o divino anseio

Da beleza suprema...


XIV. DO MAL E DO BEM

Todos têm seu encanto: os santos e os corruptos.

Não há coisa, na vida, inteiramente má.

Tu dizes que a verdade produz frutos...

Já viste as flores que a mentira dá?


XV. DO MAU ESTILO

Todo o bem, todo o mal que eles te dizem, nada

Seria, se soubessem expressá-lo...

O ataque de uma borboleta agrada

Mais que todos os beijos de um cavalo.

XVI. DA DISCRETA ALEGRIA

Longe do mundo vão, goza o feliz minuto

Que arrebataste às horas distraídas.

Maior prazer não é roubar um fruto

Mas sim ir saboreá-lo às escondidas.


XVII. DA INDULGÊNCIA

Não perturbes a paz da tua vida,

Acolhe a todos igualmente bem.

A indulgência é a maneira mais polida

De desprezar alguém.


XVIII. DOS PESCADORES DE ALMAS

Se Deus, tal como Satanás, procura

As almas aliciar.., por que deixa ao Pecado

Esse caminho suave, essa fatal doçura

E faz do Bem um fruto amargo e indesejado?


XIX. DOS MILAGRES

O milagre não é dar vida ao corpo extinto,

Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...

Nem mudar água pura em vinho tinto...

Milagre é acreditarem nisso tudo!


XX. DOS SOFRIMENTOS QUOTIDIANOS

Tricas...

Nadinhas mil...

Ridículos extremos...

Enxame atroz que em torno à gente esvoaça.

E disto, e só por isto envelhecemos...

Nem todos podem ter uma grande desgraça!


XXI. DAS ILUSÕES

Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o.

Com ele ia subindo a ladeira da vida.

E, no entretanto, após cada ilusão perdida...

Que extraordinária sensação de alívio!


XXII. DA BOA E DA MÁ FORTUNA

É sem razão, e é sem merecimento,

Que a gente a sorte maldiz:

Quanto a mim, sempre odiei o sofrimento,

Mas nunca soube ser feliz...


XXIII. DOS NOSSOS MALES

A nós nos bastem nossos próprios ais,

Que a ninguém sua cruz é pequenína.

Por pior que seja a situação da China,

Os nossos calos doem muito mais...


XXIV. DA INFIEL COMPANHEIRA

Como um cego, grita a gente:

"Felicidade, onde estás?"

Ou vai-nos andando à frente...

Ou ficou lá para trás...


XXV. DA PAZ INTERIOR

O sossego interior, se queres atingi-lo,

Não deixes coisa alguma incompleta ou adiada.

Não há nada que dê um sono mais tranqüilo

Que uma vingança bem executada...


XXVI. DA MEDIOCRIDADE

Nossa alma incapaz e pequenína

Mais complacências que irrlsão merece.

Se ninguém é tão bom quanto imagina,

Também não é tão mau como parece.


XXVII. DO ESPÍRITO E DO CORPO

O espírito é variável como o vento,

Mais coerente é o corpo, e mais discreto...

Mudaste muita vez de pensamento,

Mas nunca de teu vinho predileto...


XXVIII. DO "HOMO SAPIENS"

E eis que, ante a infinita Criação,

O próprio Deus parou, desconcertado e mudo!

Num sorriso, inventou o homo sapiens, então,

Para que lhe explicasse aquilo tudo...


XXIX. DA ANÁLISE

Eis um problema!

E cada sábio nele aplica

As suas lentes abismais.

Mas quem com isso ganha é o problema, que fica

Sempre com um x a mais...


XXX. DO ETERNO MISTÉRIO

"Um outro mundo existe.., uma outra vida..."

Mas de que serve ires para lá?

Bem como aqui, tu'alma atônita e perdida

Nada compreenderá...


XXXI. DA POBRE ALMA

Como é que hás de poder, ó Alma, devassar

Essas da pura essência invisíveis paragens?

Tu que enfim não és mais do que um ansioso olhar!

Ó pobre Alma adoradora das Imagens...


XXXII. DAS VERDADES

A verdade mais nova, ela somente, existe!

Até que um dia, para os mais meninos,

Vai tornando esse aspecto, entre irrisório e triste,

Dos velhos figurinos...


XXXIII. DA BELEZA DAS ALMAS

Se é bela a alma em si, que importa o proceder?

Com Marco Antônio, rei da sedução,

Sentiriam os Anjos mais prazer

Do que na companhia de Catão...


XXXIV. DA PERFEIÇÃO DA VIDA

Por que prender a vida em conceitos e normas?

O Belo e o Feio.., o Bom e o Mau... Dor e Prazer...

Tudo, afinal, são formas

E não degraus do Ser!


XXXV. DA ETERNA PROCURA

Só o desejo inquieto, que não passa,

Faz o encanto da coisa desejada...

E terminamos desdenhando a caça

Pela doida aventura da caçada.


XXXVI. DA FALSIDADE

Foi tudo falso, o que ela disse?

Fecha os olhos e crê: a mentira é tão linda!

Nem ela sabe que fingir meiguice

É o mais certo sinal de que te ama ainda...


XXXVII. DA CONTRADIÇÃO

Se te contradisseste e acusam-te.., sorri.

Pois nada houve, em realidade.

Teu pensamento é que chegou, por si,

Ao outro pólo da Verdade...


XXXVIII. DO PRAZER

Quanto mais leve tanto mais sutil

O prazer que das coisas nos provém.

Escusado é beber todo um barril

Para saber que gosto o vinho tem.


XXXIX. DO PRANTO

Não tentes consolar o desgraçado

Que chora amargamente a sorte má.

Se o tirares por fim do seu estado,

Que outra consolação lhe restará?


XL. DO SABOR DAS COISAS

Por mais raro que seja, ou mais antigo,

Só um vinho é deveras excelente:

Aquele que tu bebes calmamente

Com o teu mais velho e silencioso amigo...

[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]