Esse tipo de relacionamento ocorre quando uma das partes envolvidas fala mais de si mesmo e presta pouca atenção no outro
Para falar de relação, tanto familiar, quanto amorosa ou de amizade,
é preciso pensar em um movimento de troca, de vínculo, de comunicação e
interação de ambos os lados. Costumo comparar muitas vezes uma relação
com uma ponte, onde cada um tem sua metade para ir e vir. E o encontro,
das pessoas, acontece bem lá no meio, conforme a disponibilidade,
dedicação e o interesse de ambos os lados. Uma relação nunca poderá ser
construída por um lado só, é preciso um movimento das duas partes e por
isso, acho este exemplo bem válido.
Ao nos imaginarmos andando por uma ponte
em direção ao outro, estamos falando de interesse, de olhar para o
outro, de buscá-lo e, apesar de enxergarmos e irmos na direção do outro,
também não podemos deixar de nos perceber e ter o nosso próprio chão, a
nossa parte da ponte, que é fundamental para existirmos por nós mesmos
numa relação, pois é o que nos manterá de pé e também o que podemos
oferecer de apoio (se necessário). Então, desta forma podemos pensar que
para nos relacionar precisamos ter empatia e ter egoísmo ao mesmo tempo em medidas adequadas.
Da metáfora para o dia a dia
Para um bom relacionamento,
alguns cuidados são necessários sempre: é preciso estar atento para não
ficar muito longe ou muito no nosso espaço, pois isso nos afasta do
meio "da ponte", ou seja, nos afasta do outro e nos impede de ver, ouvir
e percebê-lo realmente. E esta mesma atenção cuidadosa é válida para
uma atitude oposta, isto é, para não invadirmos a metade da outra
pessoa. Mesmo sendo um espaço aberto para nos receber, não significa
que necessariamente seja de livre acesso. E, se não tomarmos pequenos
cuidados, podemos abusar deste espaço na relação, que não nos pertence e
assim diminuímos o outro em nossa vida e também na vida dele.
Quando não permitimos uma aproximação do
outro ou quando invadimos o tempo, as ideias e o espaço do outro, temos
provavelmente uma relação conflituosa e com um movimento egocêntrico.
Se pesquisarmos a respeito do significado da palavra egocentrismo iremos
encontrar explicações como: alguém que se refere a seu próprio eu,
excesso de amor por si mesmo, desconsideração com os interesses alheios,
um egoísta. Apesar de estas características parecerem não combinar com
uma ideia de relação, costumamos assistir ou mesmo vivenciar relações
com pessoas egoístas frequentemente em nossas vidas e nas mais
diferentes esferas: familiar, namoros, casamentos e, claro, também nas
amizades.
O que torna uma pessoa egocêntrica?
Uma pessoa egoísta não precisa ser vista
como uma pessoa ruim. E também não quer dizer que não goste de você ou
não te queira bem. Mas pessoas egoístas tem dificuldade em perceber o
outro, a necessidade em atender o próprio ego faz com que não enxergue,
não ouça e não dê muito espaço para o outro existir na relação. São
pessoas que costumam falar muito sobre si, suas atividades, sua
profissão, suas viagens, suas descobertas e o que chama a atenção é a
intensidade que esta pessoa demonstra com o seu eu. Normalmente suas
falas vão conter o "eu" repetidas vezes e das mais diferentes formas,
como: eu sei, eu sou, eu faço, eu já fiz, eu conheço alguém, eu ouvi
dizer. Assim como frases de posse também fazem parte do seu discurso,
como: meu amigo, minha escola, meu trabalho, minha ideia, minha época...
Falar de si mesmo é sua principal
característica e é válido tanto para coisas boas, divertidas e gostosas
como também para dificuldades, questões com saúde, problemas
financeiros. Seus problemas sempre parecerão mais intensos e precisarão
de mais espaço e tempo do que outros. É comum nos egoístas interromperem
falas dos outros para se incluírem nos fatos ou mesmo para mudarem o
assunto, conforme sua necessidade ou desejo. E por isso costumam ter ou
gerar relações bem conflituosas.
Não é fácil permanecer por muito tempo
com pessoas que possuem esta característica de forma muito intensa. Por
mais carinho ou amor que tenhamos por alguém assim, pessoas egocêntricas
não nos permitem muito espaço para viver em conjunto. Normalmente, por
mais que desejem a relação, não estão abertas a trocar ou interagir,
visto que não há interesse real pelo que é do outro e sim por si mesmo. E
vale recordar aqui que para ter uma boa relação é preciso ter duas
partes de pé, caminhando, interagindo, sendo acolhidas e desejadas.
Quando somente uma parte ganha, ou fala, ou acredita que está certa,
provavelmente está invadindo o espaço do outro e diminuindo a existência
dele, ou quando está ausente ou longe do outro, preso no seu próprio
espaço sem acesso, fica difícil se relacionar, não acham?
Como resolver essa situação?
Conversar a respeito é sempre um
caminho muito bem vindo e necessário para tentar amenizar relações
conflituosas. Conseguir mostrar com jeito, sem agredir ou acusar, que o
outro precisa rever suas atitudes, pois está sendo egoísta, é
fundamental para que a relação possa ter uma chance de futuro. Mas isso
não significa que o outro irá concordar ou estará aberto a isso.
Principalmente porque é comum que o quadro esteja assim por muito tempo,
às vezes anos e quando nos sentimos incomodados já é uma situação
intensa, onde estamos desgastados e o outro muito acostumado a agir
desta forma egoísta.
Será preciso muito tato para mexer neste
assunto e descobrir novas possibilidades, que somente será possível se
ambas as partes estiverem com este mesmo interesse. Caso contrário, é
muito provável que se separem ou se distanciem, pois um lado sente-se
sufocado, esmagado e inexistente e precisa recuperar seu espaço de vida,
enquanto o outro lado está grandiosamente espalhado e reinando e
precisará se recolher, diminuir o espaço dominado e isso pode não ser
interessante para este lado também. O principal é: se não houver o
esforço para querer estar junto e superar esta falha na divisão de
espaço da relação, é provável que a falta de interesse, de ambas as
partes, vença.
É uma situação delicada, pois muitas
vezes há um carinho real de ambas as partes, mas o movimento egoísta
intenso enfraquece um lado e a relação fica desequilibrada. Por isso é
difícil que fiquem por muito tempo juntos ou que fique bem enquanto
juntos.
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O lado bom do egoísmo
Vale a pena lembrar aqui, também, uma
curiosidade: a de que na verdade todos nós somos egoístas. É, isso
mesmo, somos todos egoístas! E isso não é um problema ou não precisa
ser. Possuímos todos de um ego, isto é, a nossa existência e
individualismo enquanto seres humanos e isso é fundamental para
existirmos. O egoísmo, não precisa ser visto como algo ruim ou
prejudicial, pelo contrário, ele é necessário para que possamos fazer
parte de um todo, sem sermos somente uma sombra. Mas é preciso deixar
bem claro que há uma diferença entre esta necessidade de um egoísmo e a
de ser um egoísta. Ter o egoísmo é manter-se ciente sobre si mesmo, suas
particularidades e assim garantir o seu "eu", estando aberto para ver,
ouvir e receber o outro sem abrir mão de sua existência e isto é muito
importante. Já, ser egoísta é se colocar acima, ou a frente do outro e é
somente enxergar a si como necessidade e que não muito parecido
consigo.
Outra face do problema
Para finalizar, acredito ser bem válido
deixar aqui uma reflexão, um pouco mais além do que somente tentar
entender ou como lidar com pessoas egoístas. Vale a pena pensar, também,
no porque permitimos que estas pessoas tomem tamanho espaço em nossa
vida? Porque deixamos que nos direcionem ou alterem nossos desejos? Onde
estávamos quando começaram invadir nosso espaço na relação? Porque não
nos manifestamos antes? O que aconteceu com nosso ego nesta relação?
Penso que se conseguirmos saber mais
sobre quem somos, qual nosso espaço, nossos limites e desejos,
provavelmente não permitiríamos que o egoísmo de outras pessoas nos
invadissem e assim evitaríamos ou minimizaríamos bem este impacto.
Afinal, elas não nos procurariam ou não se tornariam tão egoístas
conosco. Olhando assim, podemos entender que de certa forma temos uma
participação nesta história do egoísmo do outro e por isso refletir
sobre nosso eu/ego (egoísmo) parece necessário para entender quem somos e
somente então tentar entender o outro.
Fica a dica.
mo lidar com Pessoas Manipuladoras
http://www.somostodosum.com.br/clube/artigos/autoconhecimento/como-lidar-com-pessoas-manipuladoras-23384.html
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