Para que o mundo seja do jeito que a gente quer, a mudança começa conosco, nos pensamentos, ações e sentimentos. Não adianta o ser humano ser bom, se ele tiver pensamentos negativos em relação a si e/ou ao próximo, ou reações tão negativas diante do negativo que reverte pra si o de pior. É necessário que sejamos uno em todas as nossas atitudes mentais, físicas, espirituais, pensar/agir/sentir da mesma forma, superando as diferenças e reagindo ao desconhecido sem pré-conceito, e colocando em prática a lei do amor. Quando conseguirmos juntar essas energias todas e nos tornarmos uno com o universo, teremos aprendido o que Jesus nos ensina, o que a vida nos testa, o que Deus quer de nós. Comunhão. textinho da Chris

domingo, julho 18, 2010

Depressão



Ao contrário do que se pode imaginar, a tendência à depressão é inata no ser humano. Seu contato com o inconsciente é permanente, sendo mediado pelo ego, que serve como impulsionador à vida consciente. Entrar em depressão é uma questão de se ter ou não medo de enfrentar a vida com seus desafios.
Na base de cada afecção psíquica se encontra um complexo inconsciente. Assim se dá com a depressão. Alguma experiência não bem “digerida”, isto é, mal internalizada, se encontra
incomodando a consciência ou o inconsciente, tornando-se um complexo pelas associações emocionais automáticas. Todo ser humano tem complexos e, a cada instante, pode estar formando outros ou reforçando aqueles mais inconscientes. Entrar em depressão é algo que pode ocorrer com qualquer pessoa e em qualquer fase da vida.
São muitas as formas de se entrar na depressão. Há indícios que denunciam tal possibilidade e que devem servir de alerta às pessoas mais propensas. Tristeza contumaz, necessidade constante de estar fazendo alguma coisa fora de casa, angústia persistente, irritabilidade sem nexo e sem causa aparente, evasivas em lidar com conflitos comuns, acomodação e racionalização diante de um problema grave, falta de interesse momentânea por alguma coisa antes prazerosa, bem como excesso de sono, podem ser denunciadores de depressão à vista. Existem reforçadores ou fatores que predispõem as pessoas à depressão. O principal deles é a ausência de sentido para a própria vida.
A entrada na depressão é como um passeio que se faz numa calçada sem tempo de retorno. Anda-se sem perceber que se caminhou muito. Entra-se sem a percepção de que se está há
muito tempo no caminho. Quando se deseja voltar, o percurso de retorno é longo.
Uma das experiências que favorece a entrada em depressão é a vida solitária. A vida solitária é muito longa. As horas parecem durar mais e o tamanho do dia oscila em função da motivação em suas experiências. As noites são bem mais cruéis e parecem ser intermináveis. Deseja-se alguém para conversar, para discutir ou mesmo para brigar, mas o outro é a própria consciência, que não mais censura ou se contrapõe. O solitário não tem interlocutor, pois discute consigo mesmo, fantasiando um outro inexistente, virtual e cada vez mais condescendente. Sem alguém para censurá-lo, cai no lugar comum e na mesmice que sempre esteve presente em sua consciência. Resta-lhe contracenar com personagens de programas televisivos que lhe servem, de acordo com sua própria conveniência, como alter ego frágeis. As experiências da vida solitária têm menor intensidade emocional do que aquelas compartilhadas com alguém.
O solitário procura preencher sua vida através do contato com seus conteúdos internos, pertencentes ao mundo íntimo, resultantes de suas experiências emocionais marcantes e estas vão ancorar sua vida diária. Ele procura colorir esse contato com a motivação de que precisa para fazer face à tendência natural de todo ser humano ao compartilhamento com alguém.
A saída para o solitário, a fim de não se conectar a conteúdos íntimos que podem levá-lo à depressão, é desenvolver um profundo sentimento de amor ao que faz em sociedade, valorizando sobremaneira sua ocupação cotidiana, assim como ampliando seus contatos afetivos. O solitário tem a tendência de sobrecarregar sua afetividade em determinada pessoa, exigindo-lhe mais do que pode oferecer e, muitas vezes, afastando-se dessa mesma pessoa, ampliando sua própria depressão. Portanto, a vida do solitário deve ter um sentido profundo, porém não exclusivo, isto é, não voltado para si mesmo sem a inclusão de outrem. Incluir é uma arte, pois exige criatividade, renúncia e entrega. O solitário deve sair de seu casulo, ou não entrar nele sem garantias de compartilhamento afetivo. Quando digo afetivo, estou incluindo aqueles de natureza não erótica.
Quando a vida solitária é imposta ao indivíduo, por qualquer mudança em sua vida que não dependeu de sua vontade, as possibilidades de depressão são maiores e as chances de cura são mais remotas. Nesses casos, a pessoa deve buscar, antes de qualquer sinal de pré-depressão, uma reconfiguração de seus objetivos de vida. Quando a mudança ocorre numa idade em que dificuldades típicas aparecem ou se ampliam, torna-se fundamental um rompimento com o passado e com a estrutura de vida anterior.
Isso poderá significar uma proposta de vida completamente diferente daquele que se teve até então, e ocorre, por exemplo, com pessoas que ficaram viúvas, cujos filhos já têm suas respectivas famílias e moram distantes.
Deve-se propor ao indivíduo, que foi obrigado a viver solitariamente, a experimentar esse estilo de vida buscando um novo sentido, sem considerar que houve uma punição do destino.
Quando a pessoa vai se isolando aos poucos, afastando-se dos amigos e perdendo contato com parentes, poderá descobrir que está muito próximo da depressão. A presença de amigos e de parentes preenche a necessidade do intercâmbio afetivo inerente aos seres humanos. Inexistindo um sentido maior para viver e submetido a um complexo inconsciente que se aproxima da consciência, fatalmente o isolamento social será desencadeador da depressão.
Fundamental nesses casos é a manutenção mínima de encontros com amigos com os quais se tenha contatos, mesmo que se resumam a poucas horas no mês. O recurso de telefonar não substitui o contato direto com os amigos. A comunicação por telefone não promove a troca de energia afetiva na qualidade existente quando o encontro é direto e ao vivo. Tais contatos não bastam para impedir que uma depressão se instale, muito embora minimizem os efeitos da solidão.
Outro fator desencadeante da depressão, comum em pessoas introvertidas, é a tristeza persistente acompanhada de constante irritação. Este estado revela um alto grau de insatisfação consigo mesmo e incapacidade de administrar sua própria inteligência emocional. Tal estado de espírito fortalecerá o sentimento de incompetência em gerir sua vida afetiva, provocando a auto-erotização, isto é, o retorno da energia psíquica ao próprio
mundo interno de forma mais intensa. A tristeza persistente é sinal de que pode existir uma exigência para com a vida ou com alguém, que não foi satisfeita, tornando-se uma fantasia irrealizada. A irritação persistente pode ser fruto da intolerância e da autovaloração das próprias opiniões. Pessoas assim, quando constantemente contrariadas pela vida ou pelas pessoas, facilmente entram em depressão. Merecem, porque reivindicam inconscientemente, altas doses de afetividade ou amor. São mais carentes do que os outros, porém não dão o “braço a torcer”, muitas vezes desdenhando aqueles que assim procedem. Pouco valorizam as manifestações afetivas a elas direcionadas, considerando-as pieguices e perda de tempo. São crianças emocionais e enrijecem a psiquê com frases feitas ou com racionalizações frias e inconclusivas a respeito de si mesmas. Precisam ser amadas, acalentadas e acolhidas para saírem do ciclo negativista em que se inseriram, além de esclarecimentos e maturidade emocional.
Em alguns casos, necessitam ser negadas e confrontadas por uma força oposta muito forte, a fim de acordarem do estado alienado em que se situam.
Outros, por nunca terem pensado profundamente no sentido da própria existência, nem tampouco penetrarem nas razões últimas da vida humana, ignorando seu próprio Self, vivem sem estar conectados ao seu íntimo ser divino. São zumbis à beira da depressão. Vivem o mundo objetivo, pragmático e extremamente concreto. Vivem a materialidade sem se darem conta da espiritualidade, permanecendo por muito tempo na mediocridade
coletiva. Estes necessitam urgentemente de uma razão superior para viver. Precisam de uma experiência mística ou numinosa para entenderem a vida no corpo físico como uma fase de sua evolução. Com isso quero afirmar a necessidade de uma busca religiosa para aqueles que assim se enquadram, porém não se trata de uma imersão alienante num credo confessional. Leituras pertinentes, meditações transcendentes, caminhadas em trilhas de
peregrinos, inserção em grupos de ajuda mútua, bem como freqüência a reuniões de credos religiosos sem entrega salvacionista, são recomendáveis.
Para aqueles que se sentem rejeitados ou desamparados por seus pares ou por quem alimentava seus sentimentos de pertencimento, a permanência nesse estado é altamente danosa e de fácil conexão com a depressão. São pessoas que acalentam o desejo de serem constantemente aceitas e compreendidas pelos outros, mendigando carinho e afeto. Tais pessoas costumam estabelecer relações de estreita dependência, reduzindo-as a uma ou a poucas pessoas, sem ampliação de sua rede de amigos.
Entregam seus sentimentos afetivos, consciente ou inconscientemente a alguém, sem abertura para outros vínculos não eróticos.
Estabelecem relações que sufocam. E, sem que o saibam, provocam tensões que exigem rompimento. Vivem por conta desses afetos obsessivos sem se darem conta da fragilidade
psíquica em que se encontram, como numa corda bamba perigosa.
Necessitam urgentemente entrar em contato com sua natureza individual, que, muito embora prescinda de qualquer outra pessoa para existir, só alcança a plenitude nas experiências de contato afetivo. Colocar o foco da vida afetiva numa relação, por mais
rica que seja, pode ser alienante, gerando o sentimento de nulidade pessoal. O sentimento de rejeição deve ser combatido pela percepção das possibilidades de inclusão pessoal em grupos referenciais, para os quais serão dirigidas as energias afetivas disponíveis. Esse sentimento de rejeição também decorre de expectativas afetivas não atendidas, gerando cobranças ao comportamento alheio em relação a si próprio. Por esse motivo, a pessoa deve considerar que seu nível de exigência em relação à reciprocidade do outro tem sido alto, portanto inadequado. É óbvio que todos desejam ser atendidos no mínimo em relação ao afeto que dão, porém isso nem sempre é atendido, principalmente quando se doa muito. Doar em excesso significa cobrar em demasia. Quem muito dá muito cobra. Para que o sentimento de rejeição ou de desamparo não se torne superlativo é fundamental que se entenda que existe, no íntimo de cada ser humano, uma criança não suficientemente atendida em suas expectativas maternais. Essa criança, forjada pelo arquétipo correspondente, configurou-se como um complexo inconsciente que promove o sentimento de desamparo e rejeição. Acolher essa criança, sem projetar no outro o lugar de mãe ou pai compreensivo, é o antídoto ao sentimento de rejeição e desamparo. A cobrança à retribuição afetiva vem da transferência que normalmente se faz, de forma inconsciente, sobre o outro, colocando-o como o pai ou a mãe ideal. A este mecanismo automático de projetar a mãe ou o pai idealizado, de construir uma criança interna carente, de transferir
a alguém aquele papel não correspondido e de sentir-se rejeitado ou desamparado é que chamo de alquimia do amor. Tudo isso se mistura no inconsciente sem o controle da pessoa, porém a serviço do próprio desenvolvimento da personalidade. Todos devem se perguntar o que esperar dos outros, isto é, que personagem interno está projetando no outro, transferindo-lhe responsabilidade em se comportar de uma forma idealizada, semque disso ele se dê conta. Quando a pessoa sintoniza por demais com esse complexo infantil torna-se exigente da atenção do outro e tende a considerar que tem direito a tudo inconseqüentemente.
Deve compreender que sua criança deve ser acolhida pelo adulto que também tem dentro de si, sem exigir que outrem o faça.
Em geral o depressivo se sente órfão e carente. Muitas vezes tal sentimento aparece no formato de idéias derrotistas e na exigência de atenção maior por parte dos amigos, demonstrada nos ciúmes desnecessários.
A vida impõe rotinas e obrigações repetitivas. Com o tempo, as atividades inicialmente prazerosas vão se tornando enfadonhas, chegando a se tornar pesadas e desgastantes. Quando se trata de atividades essenciais à vida da pessoa, a motivação de fazê-las geralmente retorna sem prejuízo algum, de tal forma que os momentos de desprazer são menores e cíclicos. Quando são atividades menos importantes, a pessoa começa a fazê-las em intervalos mais dilatados ou adiam sua execução até o limite da necessidade. Vai desleixando até quanto pode, mesmo percebendo seu descuido. Os pequenos detalhes vão ficando de lado, à espera de que algo maior e melhor aconteça. Adiar compromissos passa a fazer parte da conduta normal, tanto quanto a tentativa de lhes reduzir a importância ou de eliminá-los. Os obstáculos, antes superáveis e considerados desafios, tornam-se reais motivos para não prosseguir com determinadas tarefas. Preguiça e ócio estão sempre presentes. A energia motivadora da vida está sendo requisitada para outro objetivo, porém imperceptível. O inconsciente retira a energia da consciência, num movimento inverso aoda vida, sem o controle do ego. Desestímulo, desesperança, dúvidas quanto ao futuro, medo de que algo estranho e incontrolável aconteça, integram o repertório de pensamentos nesse estado. Os domingos, antes desejados para o lazer, passam a ser tediosos e longos demais. A consciência parece estar perdendo as forças e entregando-se a um ciclone que lhe absorve o entusiasmo natural. Esse processo é lento, pois nem sempre se tem consciência precisa de quando começa. No íntimo parece existir uma preocupação com o vazio existencial, não mais preenchido com as coisas cotidianas. Creio que sempre existiu
esse vazio, encoberto pela vida externa, porém agora ele é necessariamente presente, impondo-se à consciência. Aquela motivação para a realização das atividades rotineiras está sendo requisitada para a compreensão do vazio existencial e seu conseqüente preenchimento com um sentido profundo. Sem prejuízo da execução de tais atividades, a pessoa deve, para não entrar em depressão, entrar em contato com sua essência íntima e encontrar uma razão maior e transcendente para viver. A vida está pedindo um novo significado. A motivação virá com novos focos, sem perda da preocupação com a simplicidade do existir.
Um outro fator que contribui para a entrada na depressão é a descoberta de uma doença grave ou a permanência por longo tempo com ela. Uma doença grave é uma ameaça de morte, portanto altera todo o psiquismo consciente, favorecendo a emersão de complexos inconscientes. A idéia da morte pessoal afeta a consciência ainda não madura para a compreensão do fechar ciclos. A perspectiva de a doença levar à morte física altera a esperança da concretização de projetos de vida e desestabiliza a vida emocional da pessoa. A instabilidade provocada predispõe a pessoa à depressão. A doença não é vista pela pessoa como um meio para alcançar a compreensão de si mesma, mas como a possibilidade de sua destruição. Ela ocorre para ensinar algo à pessoa, que não adquiriu aquele saber por outras vias menos dolorosas. As doenças típicas e comuns na velhice também promovem a depressão e merecem atenção específica, pois nem todos se preparam para a morte. Doenças crônicas, com as quais a pessoa convive há muito tempo e que não levem à morte, limitam a vida e também podem ser causadoras de depressão. Nesses casos, é fundamental que a pessoa seja levada à reflexão a respeito de sua doença como um símbolo que representa algo desconhecido e à compreensão do significado e sentido da vida. Toda ocorrência externa que incomoda a consciência pessoal, por longo tempo e de forma insistente, representa algo educativo ao espírito. Essa reflexão tem a finalidade de conduzir o ego a um estado de estabilidade e segurança para uma maior compreensão da vida.
Conviver com pessoas depressivas por longo tempo proporciona uma maior probabilidade de se ter depressão. O contato muito prolongado promove uma espécie de contaminação
psíquica, quase imperceptível. O combate ao negativismo do depressivo, bem como as tentativas frustradas de demovê-lo de seu estado mórbido, vão minando, ao longo do tempo as forças de quem com ele intensamente convive, alterando sua disposição psíquica. O excesso de atenção ao depressivo é fator de manutenção de sua carência, dificultando sua própria libertação da doença. Aquele que dá muita atenção ao depressivo pode acabar por esquecer sua própria vida, frustrando-se se não obtiver sucesso em curá-lo. A convivência com o depressivo deve ocorrer dentro de limites aceitáveis para não acontecer uma superexposição excessiva. Devem ser colocados limites ao acolhimento maternal em excesso ao depressivo, a fim de não se estimular a dependência e manutenção do estado regressivo dele. O depressivo “suga” as energias de quem com ele convive e isso pode prejudicar a relação entre eles. A motivação e o desejo de ajudar do acompanhante gradativamente se transferem para o depressivo, que disso se nutre. Este processo de sugar energias é favorecido quando o acompanhante acredita que sua ajuda é fundamental para a cura e que está exercendo uma atividade altamente meritória e salvacionista.
Um outro fato desencadeador da depressão é a frustração profissional. O desejo de ter determinada profissão inicia-se na infância, quando os modelos parentais vão exercer influência sobre a criança. Na adolescência, a decisão sobre qual deva ser a profissão a ser seguida vai ficando mais clara, sendo fortalecida pelas influências sociais externas. Nem sempre a escolha recai sobre a preferência da pessoa, pois fatores intervenientes costumam impor uma profissão, muitas vezes não desejada. Pode ocorrer que a profissão adotada, mesmo que não desejada, venha a se tornar agradável e não mais aversiva à pessoa. Porém, pode ser que tenha de ser tolerada pelo resto da existência. Isso desencadeará uma frustração consciente e, às vezes, inconsciente.
Quando a isso se alia uma baixa remuneração ou uma incapacidade de ascensão funcional, a frustração é fator geralmente presente. A saída é a possibilidade de mudança de profissão, com a busca do aperfeiçoamento profissional em outros campos, através de cursos em horas disponíveis na semana. O tempo, antes dedicado a atividades que nada acrescentam ao espírito, agora poderá ser dedicado à busca de uma outra profissão ou uma nova capacitação.
Acresce, ainda, o fato de que o mundo globalizado tem sido responsável pelo desaparecimento de antigas profissões e pelo surgimento cada vez maior de outras. Aquela mudança deverá ser feita de forma gradativa, sem necessariamente deixar o emprego que se tem ou ficar sem qualquer atividade profissional. Portanto, uma outra capacitação profissional que se tenha, amenizará ou resolverá a provável frustração existente. A competição profissional, cada vez mais acirrada nas empresas, visando uma maior produtividade de seus empregados, provoca também frustrações profissionais, pois nem todos alcançam o status desejado. Essa competição, quando obrigatória, deve ser feita de forma solidária, sem a ambição desmedida, que provocaria frustração.
As dificuldades financeiras entram no rol daquelas que mais contribuem para a entrada numa depressão, por conta do descontentamento existencial que provocam. A impossibilidade de atender compromissos financeiros, bem como a falta de recursos para a própria manutenção pessoal, podem provocar insatisfação geral, favorecendo a entrada em depressão. As dificuldades financeiras não são incomuns, por conta da insaciabilidade humana. Mesmo que se tenha muito, a idéia de perder o que tem pode provocar instabilidade, tensão e crise. A estabilidade financeira é desejável por todos, porém o limite dela nem sempre é encontrado. Uma crise financeira pode ser resolvida a partir de alguns passos. Primeiro, é necessário impor-se limites de gastos com conseqüente eliminação de aquisição de supérfluos.
Segundo, a adequação de gastos à capacidade financeira de aquisição, isto é, despesas no limite do quanto se ganha. Terceiro, renegociar suas dívidas com os credores, ampliando prazos e reduzindo juros e multas estabelecidas. Em quarto, tentar ampliar as fontes de renda. Mesmo assim, caso se entre em depressão, a alternativa será a consciência da incapacidade de administrar dinheiro e da compulsividade em tê-lo.
Trabalhar é uma necessidade para todo ser humano que atingiu a idade adulta jovem. É fundamental ter uma ocupação útil, pois ela, não só dignifica a pessoa, como também concorre para sua independência e autodeterminação. Porém tanto o trabalho normal como seu excesso exigem um lazer. A inexistência de lazer é observada em pacientes depressivos, que, gradativamente, foram perdendo a vontade de tê-lo. Chegam, às vezes, a
confundir lazer com gosto pela leitura, cuja característica é a ampliação da cultura pela via cognitiva. Um lazer exige movimento, saída da rotina, desligamento do controle da vida diária, atividade prazerosa, bem como relaxamento e descanso. Sua falta promove enrijecimento corporal e estresse geral. É importante se ter um lazer, preferencialmente que seja compartilhado com pessoas com as quais se tenha laços afetivos. Em alguns casos deve ser sugerido ao depressivo um outro tipo de lazer, diferente daquele que habitualmente realizava, pois pode ter acontecido que ele já esteja saturado.
Há relações familiares que geram os mais diferentes tipos de tensões, que interferem sobremaneira no estado de humor e na vida psíquica em geral da pessoa. Sua ação não só incomoda quando ocorre a tensão, como também durante as diversas atividades rotineiras da pessoa. A influência na vida psíquica se dá a curto, médio e longo prazo, provocando instabilidade emocional e desgaste físico. Quando existem em família relações interpessoais conflitantes, a tensão é imediata e se torna intensa pela obrigatoriedade no convívio. Inimizade entre irmãos, entre parceiros ou entre pais e filhos provocam tensões e favorecem predisposições mórbidas. Uma delas é a depressão. Numa casa na qual se tenha um inimigo, ou que haja alguém cuja relação seja de indiferença, certamente não se tem prazer em estar ou ali viver.
Esse tipo de relação, bem como aquelas nas quais não haja correspondência no afeto, pode gerar depressão. Não resta dúvida de que o diálogo maduro, sem acusações nem cobranças, evitará a possibilidade de depressão. Esse diálogo interessa principalmente a quem não queira nem tenha tendência à depressão, independente de se ter ou não razão.
Há também relações que, pelo grau de complexidade em que se estruturam, principalmente quando são amorosas, podem ser causadoras de depressão. Relações homossexuais, de amantes, com grande diferença de idade entre ambos, com grande diferença de nível intelectual, de etnias diferentes, ou que sofram qualquer tipo de discriminação social, são mais propensas a tensões pré-disponíveis à depressão. O esforço em aceitar a discriminação social desgasta e enfraquece as forças da pessoa, muito embora possa se constituir num desafio motivador à relação. É necessário que os dois estejam bem sintonizados para que o preconceito seja vencido e não seja ampliado quando o casal estiver atravessando algum tipo de crise pertinente a todo tipo de relação amorosa. Evidentemente a personalidade do indivíduo, isto é, seu caráter, terá influência decisiva para que a depressão se instale ou não. Personalidades frágeis, diante de situações exteriores difíceis, certamente sucumbirão a caminho da depressão. Fundamental é o amadurecimento da personalidade para enfrentar tais situações.
Do livro: Alquimia do Amor - Depressão, Cura e Espiritualidade
de: Adenáuer Novaes
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